Caranguejo muda de sexo por causa de poluição
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Fêmeas de uma espécie de caranguejo, conhecida como ermitão, podem estar mudando de sexo devido à poluição.
Indivíduos hermafroditas, com características sexuais tanto de machos quanto de fêmeas, foram encontrados no Sudeste do Brasil. Como os ermitões não apresentam essas características normalmente, acredita-se que elas sejam indícios de que as fêmeas da espécie estejam se tornando machos.
Uma das explicações possíveis seria a presença do TBT (tributilestanho), um composto utilizado em tintas para casco de barcos e que, fato comprovado, causa a mudança de sexo em espécies de moluscos.
A hipótese de que as anomalias encontradas nos caranguejos, que são artrópodes, também fossem causadas pela substância foi levantada pelo biólogo Bruno Sant’Anna, de 27 anos, da UNESP. Desde janeiro de 2008, ele estuda indivíduos e seu habitat para explicar o que está acontecendo. “Eu já havia feito outros trabalhos com ermitões na região de São Vicente e Iguape e havia encontrado esses indivíduos intersexo. Naquela região também há muita concentração de TBT”, diz ele.
A pesquisa com o Clibanarius vittatus, nome científico da espécie, faz parte da tese de doutorado do biólogo. Tudo começou quando ele e outro colega, professor da USP, encontraram ermitões com os dois sexos. “Acreditamos que o TBT faça a fêmea começar a produzir hormônios de macho; ele não afeta os machos, no sentido de mudar de sexo, mas não se sabe se pode causar outros problemas”, diz Bruno. “No entanto, o que a gente supõe é durante o processo de mudança, a fêmea ainda consiga produzir os ovos”, explica ele.
Para comprovar sua tese, o biólogo primeiro mapeou as regiões estudadas para encontrar vestígios de contaminação tanto nos animais como nos sedimentos. “O ermitão ocupa as mesmas áreas que os moluscos, então analisamos 25 estuários, do Espírito Santo até Santa Catarina e, em 13 deles, encontramos evidências do TBT”.
Comprovada a contaminação, o próximo passo seria descobrir como o produto era absorvido pelo animal e em quanto tempo ele faz efeito. “Existem publicações que dizem que ele pode ficar na natureza por até dez anos. Se hoje o Brasil não usasse mais o TBT, será que essa substância não sairia do corpo do animal?”, diz Bruno.
Colocando os animais em tanques de água limpas, com ração descontaminada, ele obteve a resposta: “Constatamos que praticamente 30 dias depois o TBT sumia do corpo do caranguejo”.
Para responder à outra pergunta, sobre o meio de contaminação, o biólogo reuniu espécies contaminadas e as colocou em quatro tipos de aquários. Alguns ermitões foram mantidos em ambiente poluído, recebendo alimentação contaminada. Outros estavam em água limpa, recebendo ração descontaminada, enquanto alguns tiveram apenas um dos dois fatores: ou estavam em água poluída, mas recebendo ração limpa, ou estavam em água limpa recebendo ração poluída.
“Após 45 dias, percebemos que a contaminação se dá principalmente pela alimentação”, diz Bruno. Ele explica que, na natureza, o ermitão se alimenta de praticamente tudo: algas, restos de peixe... O que significa que não somente ele, mas todo o ecossistema estaria contaminado.
A última fase da pesquisa irá comprovar, de vez, que o TBT é o verdadeiro responsável pela mudança de sexo das fêmeas da espécie. Em Cananéia, Bruno separou 60 machos, 60 fêmeas e 60 ermitões em estágio de mudança de sexo. Ele manterá 30 indivíduos de cada grupo em ambiente contaminado, e o restante em ambiente limpo, e espera ver o processo de masculinização. “Acredito que o macho deverá produzir mais hormônios masculinos, assim como a fêmea, que deve virar um indivíduo intersexo. O que já estão nesse estágio de mudança devem virar machos de vez e o grupo hermafrodita que não for exposto deve regredir e voltar a ser fêmea”, explica.
A boa notícia é que, caso deixe de ser utilizado, o TBT – que é proibido em quase todo o mundo pela Organização Marítima Internacional – deve parar o de fazer efeito em pouco tempo. A má notícia é que, no Brasil, é provável que leva um tempo até que isso aconteça.
Bruno Santa’Anna é orientado em suas pesquisas por Alexander Turra, da USP, e Fernando Zara, da UNESP.
Fonte: Info
Indivíduos hermafroditas, com características sexuais tanto de machos quanto de fêmeas, foram encontrados no Sudeste do Brasil. Como os ermitões não apresentam essas características normalmente, acredita-se que elas sejam indícios de que as fêmeas da espécie estejam se tornando machos.
Uma das explicações possíveis seria a presença do TBT (tributilestanho), um composto utilizado em tintas para casco de barcos e que, fato comprovado, causa a mudança de sexo em espécies de moluscos.
A hipótese de que as anomalias encontradas nos caranguejos, que são artrópodes, também fossem causadas pela substância foi levantada pelo biólogo Bruno Sant’Anna, de 27 anos, da UNESP. Desde janeiro de 2008, ele estuda indivíduos e seu habitat para explicar o que está acontecendo. “Eu já havia feito outros trabalhos com ermitões na região de São Vicente e Iguape e havia encontrado esses indivíduos intersexo. Naquela região também há muita concentração de TBT”, diz ele.
A pesquisa com o Clibanarius vittatus, nome científico da espécie, faz parte da tese de doutorado do biólogo. Tudo começou quando ele e outro colega, professor da USP, encontraram ermitões com os dois sexos. “Acreditamos que o TBT faça a fêmea começar a produzir hormônios de macho; ele não afeta os machos, no sentido de mudar de sexo, mas não se sabe se pode causar outros problemas”, diz Bruno. “No entanto, o que a gente supõe é durante o processo de mudança, a fêmea ainda consiga produzir os ovos”, explica ele.
Para comprovar sua tese, o biólogo primeiro mapeou as regiões estudadas para encontrar vestígios de contaminação tanto nos animais como nos sedimentos. “O ermitão ocupa as mesmas áreas que os moluscos, então analisamos 25 estuários, do Espírito Santo até Santa Catarina e, em 13 deles, encontramos evidências do TBT”.
Comprovada a contaminação, o próximo passo seria descobrir como o produto era absorvido pelo animal e em quanto tempo ele faz efeito. “Existem publicações que dizem que ele pode ficar na natureza por até dez anos. Se hoje o Brasil não usasse mais o TBT, será que essa substância não sairia do corpo do animal?”, diz Bruno.
Colocando os animais em tanques de água limpas, com ração descontaminada, ele obteve a resposta: “Constatamos que praticamente 30 dias depois o TBT sumia do corpo do caranguejo”.
Para responder à outra pergunta, sobre o meio de contaminação, o biólogo reuniu espécies contaminadas e as colocou em quatro tipos de aquários. Alguns ermitões foram mantidos em ambiente poluído, recebendo alimentação contaminada. Outros estavam em água limpa, recebendo ração descontaminada, enquanto alguns tiveram apenas um dos dois fatores: ou estavam em água poluída, mas recebendo ração limpa, ou estavam em água limpa recebendo ração poluída.
“Após 45 dias, percebemos que a contaminação se dá principalmente pela alimentação”, diz Bruno. Ele explica que, na natureza, o ermitão se alimenta de praticamente tudo: algas, restos de peixe... O que significa que não somente ele, mas todo o ecossistema estaria contaminado.
A última fase da pesquisa irá comprovar, de vez, que o TBT é o verdadeiro responsável pela mudança de sexo das fêmeas da espécie. Em Cananéia, Bruno separou 60 machos, 60 fêmeas e 60 ermitões em estágio de mudança de sexo. Ele manterá 30 indivíduos de cada grupo em ambiente contaminado, e o restante em ambiente limpo, e espera ver o processo de masculinização. “Acredito que o macho deverá produzir mais hormônios masculinos, assim como a fêmea, que deve virar um indivíduo intersexo. O que já estão nesse estágio de mudança devem virar machos de vez e o grupo hermafrodita que não for exposto deve regredir e voltar a ser fêmea”, explica.
A boa notícia é que, caso deixe de ser utilizado, o TBT – que é proibido em quase todo o mundo pela Organização Marítima Internacional – deve parar o de fazer efeito em pouco tempo. A má notícia é que, no Brasil, é provável que leva um tempo até que isso aconteça.
Bruno Santa’Anna é orientado em suas pesquisas por Alexander Turra, da USP, e Fernando Zara, da UNESP.
Fonte: Info
Postado por Unknown
no(a) segunda-feira, 24 de agosto de 2009 às 06:18. Categoria:
Ciência,
Meio Ambiente
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